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Edição 2021
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Programa #2 de To Reverse One's Eyes, uma retrospectiva do Teatro de Romeo Castellucci por Piersandra Di Matteo, apresentado por Piersandra Di Matteo
As trajectórias artísticas de Romeo Castellucci exploradas nos anos 90 – reunidas sob o título Epopea della Polvere / Epic of Dust – foram uma ocasião para repensar radicalmente a tradição do Drama Ocidental. Negando qualquer legitimidade a um teatro concebido como ilustração de um texto, Castellucci envolveu-se numa imersão rigorosa nos grandes clássicos do teatro ocidental, de Ésquilo a Shakespeare, na descoberta de um teatro do corpo.
Em Amleto, la veemente esteriorità della morte di un mollusco (1991), encontramos um menino com a sintomatologia de uma criança autista. Encerrado num acampamento composto por circuitos elétricos e animais de peluche que se transformam em simulacros da sua família, vacila entre o ser e o não-ser. Orestea (una commedia organica?) (1995) – reencenado 20 anos depois do original – descarrila à maneira de Alice e Humpty-Dumpty de Lewis Carroll traduzida por Antonin Artaud durante a sua internação psiquiátrica em Rodez. A linguagem de Ésquilo passa para o corpo, tornando-se uma substância orgânica. Giulio Cesare (1997) investiga o Império da Retórica e a morfologia do monumento, olhando para as origens da cultura ocidental e para as suas formas de política, enquadrando um “drama da voz” entre corporificação, simulação e dissimulação. Genesi: From the Museum of Sleep (1999) trata do primeiro livro da Bíblia. Estruturado em três actos – At the beginning, Auschwitz, Abel and Cain –, Castellucci contempla a criação através do seu oposto mais extremo: Auschwitz. Corpos, mecanismos e figuras traçam um itinerário em que cada criatura está condenada a sonhar e a ser sonhada, enquanto evoca uma forma de sofrimento reveladora de formas de compaixão.
As trajectórias artísticas de Romeo Castellucci exploradas nos anos 90 – reunidas sob o título Epopea della Polvere / Epic of Dust – foram uma ocasião para repensar radicalmente a tradição do Drama Ocidental. Negando qualquer legitimidade a um teatro concebido como ilustração de um texto, Castellucci envolveu-se numa imersão rigorosa nos grandes clássicos do teatro ocidental, de Ésquilo a Shakespeare, na descoberta de um teatro do corpo.
Em Amleto, la veemente esteriorità della morte di un mollusco (1991), encontramos um menino com a sintomatologia de uma criança autista. Encerrado num acampamento composto por circuitos elétricos e animais de peluche que se transformam em simulacros da sua família, vacila entre o ser e o não-ser. Orestea (una commedia organica?) (1995) – reencenado 20 anos depois do original – descarrila à maneira de Alice e Humpty-Dumpty de Lewis Carroll traduzida por Antonin Artaud durante a sua internação psiquiátrica em Rodez. A linguagem de Ésquilo passa para o corpo, tornando-se uma substância orgânica. Giulio Cesare (1997) investiga o Império da Retórica e a morfologia do monumento, olhando para as origens da cultura ocidental e para as suas formas de política, enquadrando um “drama da voz” entre corporificação, simulação e dissimulação. Genesi: From the Museum of Sleep (1999) trata do primeiro livro da Bíblia. Estruturado em três actos – At the beginning, Auschwitz, Abel and Cain –, Castellucci contempla a criação através do seu oposto mais extremo: Auschwitz. Corpos, mecanismos e figuras traçam um itinerário em que cada criatura está condenada a sonhar e a ser sonhada, enquanto evoca uma forma de sofrimento reveladora de formas de compaixão.
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Título original:
Epopea della Polvere -
País:
Itália -
Ano:
1999 - 100'
Realizador
Romeo Castellucci

Nascido em Cesena (Itália) em 1960, Romeo Castellucci é um encenador e artista plástico mundialmente conhecido por criar um teatro fundado no conceito de “totalidade das artes” que visa uma percepção integral e uma experiência “cinestésica”. Formado em pintura e cenografia pela Academia de Belas-Artes de Bolonha, Castellucci trabalha como encenador desde os anos 80, tendo fundado, em 1981, com Claudia Castellucci e Chiara Guigi, a companhia de teatro experimental Socìetas Raffaello Sanzio, que recebeu numerosos prémios internacionais e editou diversos livros, sendo considerada a companhia italiana de maior relevo a nível mundial. A estrutura dramática das suas produções não está presa ao primado da literatura, assentando sobretudo no seu entendimento do teatro como uma arte plástica complexa e visionária. O encenador tem recorrido à sua própria experiência no teatro para produzir um conjunto de ensaios teóricos sobre a direcção de palco.